No ano passado fiz uma apresentação da programação do FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos - para uma platéia de professores aqui de BH. Estava eu lá todo animado falando das exposições e convidados, vindos dos EUA, França, Itália, Japão, Espanha e de vários estados brasileiros. De repente, uma professora me pergunta sobre os quadrinhos africanos, se teríamos alguma exposição sobre eles. Meio sem graça lhe disse que, infelizmente, não teríamos nenhum representante da nona arte africana. Na realidade naquele momento não me lembrava de conhecer algum quadrinista daquele continente. A única coisa relacionada à África de que me lembrava era o álbum Wallaye do francês Jano, que narra as aventuras do seu personagem Kebra em terras africanas.
Apesar de o álbum ser muito bom e mostrar que jano sabia o que estava escrevendo e desenhando, não era quadrinho africano. Para que os quadrinhos africanos não ficassem totalmente fora do FIQ, conversei a respeito com Roberto Ribeiro, da casa 21, nosso parceiro no FIQ, que lembrou da professora e pesquisadora Sônia Luyten, que já havia escrito a respeito do tema.
A Sônia veio ao FIQ e, brilhantemente, apresentou o que havia de produção em quadrinhos na África.
Mas o melhor disto tudo foi que, por coincidência, uma coleção de quadrinhos trazida pela Embaixada francesa para exposição durante o FIQ, trazia o álbum Aya de Yopougun, escrito por Marguerite Abouet, da Costa do Marfim e desenhado pelo francês Clément Oubrerie. Editado pela Gallimard em dois volumes, o livro foi o vencedor do Prix de premier album, de 2006, do Festival de Angoulême, principal evento de quadrinhos na Europa.
Bem, foi minha primeira leitura de um quadrinho africano, que mesmo desenhado por um europeu, tem sua alma no belo texto de Marguerite. Aya trata das aventuras de três amigas adolescentes Aya, Adjoua e Bintou, nas ruas de Yopougon, um bairro de Abidjan, maior cidade da Costa do Marfim. Como toda adolescente, a vida das meninas gira em torno da família, encontros, namoro, sexo, expectativas de vida. E tudo isso é tratado com um humor surpreendente
Aya traz uma narrativa que foge dos clichês sobre as calamidades e tragédias africanas. Afinal existem muitas outras histórias que podem ser contadas.
Vale a pena a leitura. O único senão e que o livro ainda não foi editado no Brasil. O momento editorial é propício. A lei 10.639, que incluiu nos currículos escolares o ensino da história e cultura africana tem estimulado muitas publicações sobre a áfrica e de autores africanos. O próprio mercado de quadrinhos tem espaço para álbuns como este.